Minha história

Você deve estar pensando: uma palestra de um cadeirante, este cara deve ter uma mensagem motivacional, de superação.

Pode até ser. Mas eu estou aqui para falar de oportunidades.

Hoje eu digo que eu estou numa cadeira de rodas porque eu tive oportunidades.

Eu tive muitas oportunidades na minha vida. Mas a maior de todas as oportunidades foi nascer na família que eu nasci. Toda a construção da pessoa e do profissional que eu sou hoje se deve a todo o suporte inicial que a minha família me deu.

A minha segunda grande oportunidade também foi a minha família que me deu. Eles me deram a oportunidade de ser protagonista da minha própria vida.

Se eu sou analista de sistemas é porque eu quis ser analista de sistemas!

Se eu sou palestrante é porque eu gosto de contar minha história.

Eu tive a oportunidade de me aposentar por invalidez. Poderia ter me acomodado e estar em casa assistindo televisão todas as tardes. Se esta tivesse sido minha escolha você não estaria aqui lendo este texto.

Mas eu decidi ser protagonista. Para ser protagonista é preciso estudar. E para estudar eu precisei aprender resiliência. Muito antes dessa palavra estar na moda ou mesmo sem eu saber que ela existia.

Meus pais mais uma vez me ensinaram. Eles tiveram a minha matrícula negada no jardim de infância por várias vezes. Como justificativa alegavam que eu era uma criança com deficiência e por isso não poderia frequentar uma escola regular.

A persistência de meus meus pais foi maior e eu fui para um jardim de infância como todas as crianças merecem.

Assim foi durante todo o ensino básico e fundamental.

Também tenho muitos amigos como verdadeiros irmãos e irmãs. O que sou hoje não é mais só pelo que meus pais me ensinaram, mas também pelo que meus amigos também me ensinaram e me proporcionaram fazer e aprender.

Já no primeiro semestre de faculdade eu recebo um telefonema da recrutadora do RH da maior empresa de software do Brasil. “Alisson, você pode fazer uma entrevista?” Claro que posso. Eu nunca tinha feito entrevista de emprego. Pensei que jamais seria contratado. Na época a empresa não precisava atender a cotas de deficientes. Mas mesmo assim fui contratado, fui bem nos testes e nas entrevistas. Fui contratado por competência. Mais uma grande oportunidade.

Fui de estagiário a analista de clientes de grandes contas. Fui instrutor em cursos e treinamentos, inclusive para outros países. Pude orientar novos profissionais.

Assim eu venho protagonizando minha vida. Mas eu percebi que infelizmente eu sou exceção. Dificilmente vemos Pessoas Com Deficiência formadas, pós-graduadas, competindo de igual para igual no mercado de trabalho com pessoas sem deficiência. Por isso eu passei a contar a minha história em palestras.

Também a partir das minhas palestras algumas pessoas me estimularam a entrar para a política, assunto que sempre me fascinou. Foi quando em 2016 disputei uma candidatura experimental a vereador por Joinville, conquistando 1.724 votos, chegando à segunda suplência da coligação. Em 2018 fui um dos 133 selecionados do primeiro programa de formação de novos líderes políticos do Brasil, que me preparou para ser candidato a deputado estadual no mesmo ano conquistando 10.621 votos.

Em 2019 assumi o papel de monitor de 140 alunos, de todos os estados do Brasil, daquele mesmo programa que passou a se tornar a primeira escola de políticos do país, participando de todo o processo de seleção e acompanhamento dos novos alunos.

Ter uma doença degenerativa é como ser água. Já dizia Bruce Lee: “SEJA ÁGUA!” A água se adapta. Se ela está num copo, ela é o copo. Se ela está numa garrafa, ela é a garrafa. É preciso se adaptar, rápido e todos os dias. É preciso deixar as vergonhas da deficiência de lado, a minha sobrevivência e o meu desenvolvimento dependem disso.